29 agosto 2009

O carnaval e as coisas

(Pablo Martins)

Um pivete apanha o som
Pro turista cochilar
Pro cientista investigar
E explicar-nos o que é bom
É pro discurso estar no tom
E o modelo desfilar
É pro estudante analisar
Que o pivete apanha o som

Um malandro apaga a fé
Pro devoto obedecer
Pro estado acumular poder
E o povo ter samba no pé
É pro povo ter samba no pé
Pro índio aprender inglês
Pra segurança do burguês
Que um malandro apaga a fé

Elas e suas mazelas
Eles e os berloques deles
Ossos com os seus ofícios
Nossos ócios nossos vícios
"isso mesmo é que há de haver mais compaixão"

Há tanta graça, tanta preguiça
São vastas as solidões
Tanta tortura, tantos os tortos
Há tanta ternura
E é tudo música popular

Uma maluca arromba a poesia
Pro capital vender filosofia
Pro samba refutar a teoria
Pro tempo dispensar o ditador
Pra banda cantar coisas de amor
Pro bom entendedor buarquear
É pro modelo desabar
Que um mameluco arromba a poesia

Quem cantará o que a história traduz
Quando estivermos nus pra saber
Quem saberá ler as linhas das mãos
Quando estivermos sãos pra esquecer
Há tanta praga, tanta alegria
São breves as solidões
Tanta saudade, tantos temores
São tantos amores
E é tudo música popular
É tanta pressa, tanta bagunça
É tanta conversa e tanto silêncio

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