(Paulo Pappen)
A Organização Mundial da Vida informa:
O trabalho escravo passou a se chamar apenas trabalho. Assim, os escravos deixaram de se chamar escravos, e devem ser mencionados como trabalhadores, funcionários ou colaboradores. Consequentemente, acaba-se também com a idéia de liberdade, que deixa de fazer sentido a partir do momento em que todos são livres. A antiga luta pela liberdade, então, deve ser substituída pela luta pela paz.
As pessoas querem paz, mas acabam ficando livres. E quando querem ser livres, acabam encontrando a paz. A paz, portanto, é inimiga da liberdade. Inimigos são aqueles que brigam pelo mesmo lugar, e a paz é não brigar. Então é a liberdade que impede que a paz exista, porque a liberdade é justiça, e a justiça é luta, briga, pedrada no gigante.
O gigante é a sociedade. A sociedade é cada vez maior, e assim vai aumentando a sombra do gigante. A sombra é a paz do verão. O sol é a liberdade do inverno.
Isso tudo soa desconexo porque é uma tentativa de cruzar linhas paralelas. Até agora, a paz e a liberdade demonstraram ser as mais belas linhas paralelas do destino humano. Não se exclui, porém, a possibilidade de que elas não sejam paralelas e, portanto, um dia se encontrem num x.
Essa possibilidade é alimentada pela esperança, a linha que ziguezaga entre a paz e a liberdade. Nossa linguagem é baseada na diplomacia exercida pela esperança, e é por isso que estamos o tempo todo nos contradizendo. Uma hora queremos paz, e na outra liberdade, mas no fundo só estamos fazendo propaganda pra esperança. A esperança é quando estamos acordados, pensando e falando, o que não traz nenhuma satisfação vital.
Só dormir é satisfação garantida, porque o sono junta a liberdade e a paz. As pessoas morrem de fome, de sede, de frio, de medo e de solidão, mas nunca morrem de sono. É assim que se conseguiu chegar ao século 21: permitindo minimamente o sono.
Permitir é uma palavra ligada à liberdade, de onde se presume que, no fundo, a luta é pela liberdade. Isso porque a liberdade conduz à paz, e a paz não conduz à liberdade.
Mas se são linhas paralelas, como pode uma nos levar à outra?
Calma. Aqui entra outra questão interessante: as linhas são paralelas, não são iguais. A liberdade acredita numa paz vinda com a luta e o movimento, mas a paz não reconhece nenhuma liberdade fora dos seus domínios.
Porque a paz é disciplina, é prever o que pode acontecer e acreditar nessa previsão. E a liberdade é improviso, uma reação diante da reação do outro. Essa é a tendência natural do ser vivo: agir, reagir, se mexer. O pensamento (acreditar, sonhar, falar) é uma característica do animal humano, e portanto lutar pela paz faz sentido apenas para a humanidade. A liberdade é uma luta comum a todos os animais e é por isso que é mais simples. E por ser mais simples, é mais satisfatória.
Mas satisfação não é liberdade e paz ao mesmo tempo?
Exatamente. É por isso que dormir é satisfação garantida: porque se dorme mesmo sem paz, mesmo sem liberdade.
É por isso também que a morte é muitas vezes referida como um sono, o sono, o descanso justo.
A Organização Mundial da Vida informa também que:
Da mesma maneira que se acabou com a escravidão pra se acabar com a liberdade, acabou-se com a censura pra se acabar com a subversão. Quer dizer, oficialmente não faz sentido existirem subversivos, já que não existe uma ordem a ser subvertida. Mas só foi possível acabar com a censura e com a escravidão porque as pessoas aprenderam a se autocensurar, e já estavam com a escravidão na alma.
Quanto ao futuro, pouco se pode saber, mas o fato é que demos aspirina e coca-cola pra todo mundo, e a tendência é que a gente continue zumbizando por aí.
O trabalho escravo passou a se chamar apenas trabalho. Assim, os escravos deixaram de se chamar escravos, e devem ser mencionados como trabalhadores, funcionários ou colaboradores. Consequentemente, acaba-se também com a idéia de liberdade, que deixa de fazer sentido a partir do momento em que todos são livres. A antiga luta pela liberdade, então, deve ser substituída pela luta pela paz.
As pessoas querem paz, mas acabam ficando livres. E quando querem ser livres, acabam encontrando a paz. A paz, portanto, é inimiga da liberdade. Inimigos são aqueles que brigam pelo mesmo lugar, e a paz é não brigar. Então é a liberdade que impede que a paz exista, porque a liberdade é justiça, e a justiça é luta, briga, pedrada no gigante.
O gigante é a sociedade. A sociedade é cada vez maior, e assim vai aumentando a sombra do gigante. A sombra é a paz do verão. O sol é a liberdade do inverno.
Isso tudo soa desconexo porque é uma tentativa de cruzar linhas paralelas. Até agora, a paz e a liberdade demonstraram ser as mais belas linhas paralelas do destino humano. Não se exclui, porém, a possibilidade de que elas não sejam paralelas e, portanto, um dia se encontrem num x.
Essa possibilidade é alimentada pela esperança, a linha que ziguezaga entre a paz e a liberdade. Nossa linguagem é baseada na diplomacia exercida pela esperança, e é por isso que estamos o tempo todo nos contradizendo. Uma hora queremos paz, e na outra liberdade, mas no fundo só estamos fazendo propaganda pra esperança. A esperança é quando estamos acordados, pensando e falando, o que não traz nenhuma satisfação vital.
Só dormir é satisfação garantida, porque o sono junta a liberdade e a paz. As pessoas morrem de fome, de sede, de frio, de medo e de solidão, mas nunca morrem de sono. É assim que se conseguiu chegar ao século 21: permitindo minimamente o sono.
Permitir é uma palavra ligada à liberdade, de onde se presume que, no fundo, a luta é pela liberdade. Isso porque a liberdade conduz à paz, e a paz não conduz à liberdade.
Mas se são linhas paralelas, como pode uma nos levar à outra?
Calma. Aqui entra outra questão interessante: as linhas são paralelas, não são iguais. A liberdade acredita numa paz vinda com a luta e o movimento, mas a paz não reconhece nenhuma liberdade fora dos seus domínios.
Porque a paz é disciplina, é prever o que pode acontecer e acreditar nessa previsão. E a liberdade é improviso, uma reação diante da reação do outro. Essa é a tendência natural do ser vivo: agir, reagir, se mexer. O pensamento (acreditar, sonhar, falar) é uma característica do animal humano, e portanto lutar pela paz faz sentido apenas para a humanidade. A liberdade é uma luta comum a todos os animais e é por isso que é mais simples. E por ser mais simples, é mais satisfatória.
Mas satisfação não é liberdade e paz ao mesmo tempo?
Exatamente. É por isso que dormir é satisfação garantida: porque se dorme mesmo sem paz, mesmo sem liberdade.
É por isso também que a morte é muitas vezes referida como um sono, o sono, o descanso justo.
A Organização Mundial da Vida informa também que:
Da mesma maneira que se acabou com a escravidão pra se acabar com a liberdade, acabou-se com a censura pra se acabar com a subversão. Quer dizer, oficialmente não faz sentido existirem subversivos, já que não existe uma ordem a ser subvertida. Mas só foi possível acabar com a censura e com a escravidão porque as pessoas aprenderam a se autocensurar, e já estavam com a escravidão na alma.
Quanto ao futuro, pouco se pode saber, mas o fato é que demos aspirina e coca-cola pra todo mundo, e a tendência é que a gente continue zumbizando por aí.